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XII.

por Neurótika Webb, em 24.09.15

XII.

Eu já sabia!

Já sabia que ao mencionar a minha irmã iria ser mais forte que ele.

As pessoas têm uma curiosidade mórbida por gémeos, como se fossemos umas atracções de circo.

E também sabia que, ao contrário de mim, a sua face luminosa, os seus cabelos da cor de uma ceara madura beijada pelo sol e os seus olhos da cor do mar iriam exercer a sua magia sobre ele. Eu não. Eu pareço uma criatura saída de uma masmorra, com os cabelos negros emaranhados e os meus olhos, da cor dos dela, espreitam por baixo como os de um animal perdido no escuro.

Fiquei a vê-los de longe, escondida atrás da porta que dá para a sala de convívio. Não sei o que lhe disse, mas a maneira como lhe afastava os caracóis despenteados do rosto, percebi que estava a resultar. Todos se perdem de amores por ela, como o rapaz que ia entregar as verduras lá a casa e se punha a espreitar para dentro, e que suspirava quando a via.

Lembro-me de um dia me ir pôr ao espelho a tentar perceber porque não olhavam os rapazes para mim daquela maneira. Talvez fosse os cabelos negros contra a pele branca que me dão um ar de boneca de porcelana, daquelas que ninguém quer. Todas as meninas querem as bonecas loiras. Até eu. Mas nunca tive ciúmes, dela nunca! E agora ela pode ser a nossa saída deste inferno. Se ela conseguir domar aquele espírito rebelde…

Sempre fui a mais calada, a mais séria, a mais observadora. Nos meus longos silêncios gostava de observar as pessoas, a maneira como gesticulavam quando falavam. Por vezes, mesmo sem os ouvir, sabia do que falavam, só pela maneira como se moviam. Talvez por isso saiba que ele não lhe vai resistir.

Apesar de ele achar, que por ser o médico, tem controlo sobre ela, está muito enganado.

Pela maneira como se inclina sobre ela, como lhe passa a mão no rosto, como os seus olhos brilham quando a olha, ela é que tem o controlo.

E ele é perfeito.

Quando o olhei nos olhos só vi felicidade. Uma infância feliz e uma vida de facilidades.

Não tem dores escondidas, por isso não é desconfiado, não vai perceber o nosso jogo.

Mas tudo depende dela. Ela tem que o seduzir. Tem que o fazer casar, para podermos sair daqui. Só temos que ter a subtileza de o fazer acreditar que é tudo ideia dele.

Interrogo-me se ela será capaz de o fazer.

 

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publicado às 15:00


2 diagnósticos

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De Me, myself and I a 24.09.2015 às 15:39

Continua a prender a tua escrita!
Jornalista...designer...ah...esqueceste-te de referir escritora!
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De Neurótika Webb a 24.09.2015 às 15:51

isso é só mesmo na minha cabeça...ahahaha....se não fosse a MJ, nem sei se me tinha arriscado nesta aventura.
mas gosto de escrever.

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